Desfolhada

Os textos que nunca tinha tido coragem de escrever... © Reservados todos os direitos de autor dos textos e poemas

segunda-feira, julho 17, 2006

Desfolhada II

Com o Desfolhada a atingir o limite de espaço, surge o Desfolhada II.

Beijos a todos,
Betty

terça-feira, julho 11, 2006

Gotas do prado


"Meadow drops", Reginald Iskandar

Deslizo em ti
gota translúcida
fresca como a chuva
miudinha de destino incerto
escondida em locais
secretos para o mundo
deslizo em terreno inculto
esconderijo dos encantados
eu e tu, tu e eu
fazemos história
ilógica ao senso comum
dos mal amados
eu e tu, tu e eu
hoje e sempre afortunados
como as gotas do prado
silenciosamente ausentes
do mundo real

sexta-feira, maio 26, 2006

2 anos


Relógio, Dali

Sou os dias, os anos
as horas, os minutos
momentos insanos
risos, gargalhadas
rugas e sinais
sou um relógio do tempo
de memórias e lembranças
tic tac, tic tac, tic tac
sou presença virtual
personagem, indivíduo
palavra, escrita, poeta?
aqui estou afortunada
a outros tempos ligada
somos um ciclo em acção
um modo de existir
amigos companheiros camaradas
permanecemos realidade
entre o estar o ficar e o sentir


Amigos,
Um curso nocturno tem-me impedido de ser mais assídua no meu e nos vossos blogs. Prometo que a partir de Junho voltarei.
Quero, no entanto, assinalar hoje este 2 aninhos (já??) neste mundo virtual, ao qual me orgulho de pertencer e que me tem dado a conhecer tanta gente bonita, talento e imaginação.
Muito obrigada a todos!
Betty

quarta-feira, maio 03, 2006

Ritmo


“Endless Love” Alfred Gockel

Enquanto me vou e venho
avidamente amor
a boca gulosa desliza
no corpo em brasa
que pinga, escorrega
dedos que prendem com garra
devoro, apuro, engulo, recuso, seduzo
extravagante seria ficar inerte
nesta dança de corpo ritmado
que se eleva e desloca como as ondas do mar
vejo o mundo de novo e quero tudo!
enquanto me venho e vou
sofregamente amor

sexta-feira, abril 07, 2006

Cumplicidades


"Couple", Sylvain Cza

Na mesma palavra
um conteúdo diferente
em cada boca, em cada ouvido
em cada pedaço de papel escrito
aos olhos de quem a lê
a palavra cruza-se
preenchendo quadrados
de solidão
percorre mares, desertos, montanhas
arrasa e constrói sentimentos e esperanças
rasga-se em prantos, desesperos e abraços
promete honra e critica pecado
jura fidelidade e amor para sempre
omite outros amores
outras escolhas
tantas palavras entre promessas
cumpridas e por cumprir

a palavra
falada de viva voz
morre na cumplicidade dos amantes
no beijo silencioso
na ausência das palavras ditas
na ausência das palavras escritas

terça-feira, março 21, 2006

Azul no Dia Mundial da Poesia


Sea Breeze, Simon Fairless

No azul dos teus olhos
respiro a brisa do mar
cedo o meu corpo
em nú colorido
molhado onde o sol irrompe
pelas nuvens
ciumento

ténue é a linha
entre as carícias das tuas mãos
que me abraçam e os salpicos
de água nas bochechas coloridas
do embaraço
contrastando com a palidez branca
da espuma onde rodopiam felizes
as patéticas gaivotas

comovo-me enquanto o sol se põe
no azul dos teus olhos o céu
fica mais perto

quinta-feira, março 02, 2006

Esperança


Sun

O sol caiu no mar vermelho
sem destino definido
sem hora marcada
sem ninguém notar apeteceu-lhe
esta ausência de ruído
em segredo
sentiu-se limitado no espaço
no tempo que corre
há quem fuja de coisa nenhuma
não o privem desta acção voluntária
de não falar
deixem que interrompa a correspondência
que omita explicações
que vá descansar a alma
que se pergunte porque
as coisas acontecem assim
espontâneas, gratuitas, ele sabe
a dor de hoje será a vitória de amanhã
não deixem
que se forme um pedaço de mar
com o vosso pranto
o sol ausentou-se apenas para reflectir
deixou-se mergulhar naquele mar
verde de esperança
o calor está presente
a afeição também

p.s. com beijinhos de melhoras

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Para ti


karen gillis taylor

Este amor
anti-platónico
que se quer longo
flutua em mim

escrevo-te
descrevo-me
reconheço-me em ti

a minha escrita és tu
entre rasgos de lucidez

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Alma louca


Two hearts, Carolyn Quartermaine

Eis-me de novo
refazendo percursos
deusa do meu destino vou
pela estrada de tijolos alaranjados
alcatifando de relva o meu caminho
cosendo feridas com linhas de amor
desenhando corações abençoados

aqui sinto as pancadas
agradecida pelo espaço de tempo
entre o nascimento e a morte

entusiasmada de paixão
lambo-te em pepitas de chocolate
eis-me de novo na encruzilhada
entre o acanhamento e a devassidão
fundida nesse abrir de joelhos

o corpo em movimento
as mãos fechadas no suor
da tua pele em meu corpo
a alma louca

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Há uma nova estrela no céu


Sting

Desde o dia em que partiste
fiquei submersa no fundo do mar
onde as árvores e o vento choram
as melodias do silêncio que deixaste
a morte seguiu teu brilho
veio de carro engalanada
não quero que ninguém cante
tenho a alma muda de palavras
o coração apertado na dor
indiferente às alegrias
em vez de gritar sinto o mar revolto
em meus olhos estou só
com a minha saudade triste
no vazio tudo me perturba
podes repousar no meu coração
porque eu não sei dizer adeus

estou a tentar perdoar-Lhe pela nova estrela
mas ainda que o céu se encha de luz
terei eu ainda fé?

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Eleger



Tenho os braços e o regaço
unidos num mesmo gesto oferecido
nesta pausa de sonhos e lutas
contra moinhos
recuperada das cicatrizes da alma
pintando túlipas de luz no meu coração
multiplico o amor e divido a humildade
em riscos escritos para ti
ninguém será criticado por escrever
para evitar a loucura
entre a falta de lucidez dos outros

quero fazer revoluções sem violência
onde a paz social não é íntima do vencimento-gorjeta
vejo no país a solidão dos aprendizes
que discutem sabedoria com os sábios
é escassa esta bagagem dos que inventam verdades
que trocam a cama da miséria emocional
pela calma luxuosa do poder

vem comigo oxigenar a alma no sol
quero sentir-me extraterrestre
e cobrir-me de ti

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Faz de conta


Woman with Sunflowers, Artist unknown

Roubei o amanhã
para que este dia não acabe
sou ladra do tempo que há-de vir
a ser futuro e roubei
de fininho deslizando sobre o mar
invisível entre o sol e a lua brinquei ao bate-o-pé
tenho-te comigo num faz de conta
com fadas, princesas e monstros
aqui na Terra do Nunca vejo as flores
e o mar de maneira diferente
tenho pés de nuvens e chapéus de estrelas
mãos cheias de girassóis e cabelos de chuva prateada
recrio a eterna primavera
onde a primeira flor de cada dia
me pertence
e apenas num instante entre o antes e o depois
adormeço entre pássaros, borboletas
e páginas de uma estória
onde só os puros são felizes

quinta-feira, janeiro 05, 2006

O sorriso



No teu sorriso
descobri-me despida
de receios e ansiedades
privada de todas as vestes
apenas o calor
das tuas mãos me aquece
imóvel ao sabor das ondas azuis
que meus olhos devoram nos teus
quatro lábios unidos num mesmo gesto
no teu sorriso
nada que pudesse usar como traje
nem as palavras
apenas o silêncio e a contemplação
no teu brilho
permaneço diante dos teus olhos
nua
de tantos desejos vestida

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Luz

Podia ver-se
em cada rua, casa ou poema
a luz
que te iluminou os olhos
verdes reflectidos no orvalho
da manhã que agora acordou
azuis da cor do céu sem nuvens
brilhantes em mil e uma cores
junto a mim
podia ver-se
entre os céus até Belém
onde ficou
entre o sonho e o real
presente dos tempos dificeis
podia ver-se
entre palhas e murmúrios
entre rezas no regaço apenas
um instante bastou
para que o segredo de um dia
seja história universal

terça-feira, dezembro 06, 2005

Direitos




Tenho o direito
de ter asas nos meus bolsos
de ser folha ao vento e pétala de mar
de querer o impossível
de não ser igual aos outros
de inventar o inexistente
de exigir que me abram todas as portas
de não querer fronteira, País, Europa
de saber todos os segredos e desejos
de correr todos os caminhos
de pintar poemas com cores de luz
de escrever versos em branco
de não vender poesia
de ver que nada é igual
e que é tudo a mesma coisa
de ser semente, flor e fruto
de andar vestida como quiser
de andar nua como vim ao mundo
de beber sumo de ausência para não morrer
de morar no sol e fazer férias na lua
de multiplicar o amor contigo
e ser feliz para sempre

segunda-feira, novembro 28, 2005

Espera


"La espera", Kunst

Entre os lençóis quentes
húmidos de mim
antes de adormecer
brincam os dedos
dos pés entrelaçados
espero-te olhando
António meu santo de devoção
iluminado
pela luz ténue
dos pirilampos que brincam
às estrelas

assim brilham
meus olhos quando te vêem

quarta-feira, novembro 16, 2005

Marmelada


(foto retirada da net)

Esse mel
que me acompanha a lua
calda que em mim goteja
vagaroso, propício
a este desejo exclusivo
esse mel gigante
chupa-chupa nos meus lábios
desfeito, perfeito licor
dos deuses no meu umbigo
sabes a mel, a mar
lambuzo-me na maré
sereia de vocação
sou mel, sou mar
melada em ti

sexta-feira, novembro 04, 2005

Algodão

Serás tu? adormecida
naquela onda branca
tentando alcançar a nuvem
que hesita em chorar
sonhas com a alma
de algodão doce tecida
serás tu? visão
enevoada dentro da nuvem
tu dentro de mim
sangue, sumo da vida
princípio, meio e fim
aqui no meio do nada
tudo em mim

transformei a poeira flutuante
que outrora preenchia o coração
pelo brilho das estrelas

quinta-feira, outubro 27, 2005

Casa


Angkor Wat, David Thompson

Ergo-me raíz do futuro
meditando com sorrisos de perdão
aqui me fixo em paz
absorvo(-te), oculto e protejo
fantasio a alma em oração
contemplo o mundo
em retiro, abrigada
no conforto das tuas mãos
aqui sou forte como tu
sol, vento e chuva
cascata, rio e mar
aspiro ser força maior
imparável
perseguidora de sonhos
e canções de embalar
aqui sou imaginação e engenho
ânimo, criança e mulher
sou tudo o que (des)conheces
nua do meu passado sou
tudo, tua

quinta-feira, outubro 20, 2005

Caminhada


Walking on the Sea, Mishal AL-Mana

Caminhei sobre o mar
sonhei hoje
cruzei terras e céus
abraçando nuvens e desejos
crianças e poetas
esquecendo pecados meus
calei choros e soluços
converti-os
em sorrisos e gargalhadas
ah! se eu pudesse
flutuaria
dançando valsas
sem tropeçar nos teus pés

eu mais leve
o mundo também

sexta-feira, outubro 14, 2005

Girassóis


Van Gogh, Sunflowers


Este vento que sopra baixinho
o teu nome
corre nas minhas veias como um rio
em ondas quentes, vermelhas
Outono moreno este
que me aquece o coração
pinta o mar de cinzento
outrora quente e azul

e é nesta ausência de girassóis no meu jardim
que me junto a Van Gogh
para te aquecer a alma

segunda-feira, outubro 03, 2005

Dias menores

Outubro viu-me
lua escondida na nuvem
passageira luz que em teus olhos
aparece comovida
neste tempo
em que os dias são menores
e o frio faz apetecer calor
sou desconhecida da noite imensa
insónia perturbadora da serenidade

num tempo que há-de vir
escolherei folhas e frutos
serei tronco de gerações
força avassaladora da natureza
agora vejo-me
adocicado satélite de mel
órfã de filhos paridos

terça-feira, setembro 27, 2005

Sublime amor

Este silêncio interrompido
nas madrugadas em que me iluminas
com voz de sussurro fico
mais perto do sol e das estrelas
largando roupas e sorrisos
contrários à decência ou pudor
por entre as folhas vagueio
nua na luz e no aroma das árvores
acaricio a música do bambu
pois entre a alma que ama
e o corpo que deseja
permanecem os silêncios entre nós
interrompidos
onde o amor existe

sexta-feira, agosto 19, 2005

Promessa

Existo
todas as manhãs
em que acordo a teu lado
regresso gota de suor
molhada em maresias nocturnas
e bocejos de cansaço
emerjo do mar azul
dos teus olhos com beijos abertos
nas tuas mãos que me agarram
em gargalhadas sonoras
que se soltam do teu corpo
no rápido piscar de olho
cúmplices tu e eu
existo
na fidelidade e no amor
na compreensão dos silêncios
no enlace do som com as palavras
desafinando as músicas da nossa vida
na alegria e na tristeza
no teu amo-te sussurrado
harmonioso
todos os dias da nossa vida

segunda-feira, julho 18, 2005

Cócegas

É redonda
a lágrima embaciada
que reflecte a luz
azul dos teus olhos
brilhante humor líquido
límpido
que em alvoroço constante
anima, incita, estimula
aviva-me o brio
molhado
sumo do amor
pleno em privilégios
regalias, imunidades
rega necessária
para que os meus olhos expludam
neste riso compulsivo
causado pela fricção
dos teus dedos
naqueles pontos específicos
que só eu sinto

quinta-feira, julho 07, 2005

Frágil

Eu
que a ti pertenço
frequentemente
ouso abrir as asas
rir das penas e tristezas
rebolar nos sonhos e alegrias
fechar os olhos em ti
infante das minhas descobertas

Eu
com este frio
que me percorre o umbigo
barriga, estômago, nuca
frequentemente
o tempo corre veloz
indiferente ao que preciso
pensar, decidir, fazer
este contra relógio (in)definido
entre convites e confirmações
flores, tecidos e véus

Eu
que me encolho nua
na minha fragilidade

sexta-feira, junho 17, 2005

Noivado

Fica aqui
assim
no escurinho
comigo até que a pele aqueça
em abraços
e que os lábios se transformem
em sumo de melancias frescas
fica
com os dedos
percorrendo-me
em maratona de lentidão
onde se anseia pelo prazer
tardio na hora certa
aqui
escreve comigo as imagens
onde o amor é festejado
fotografa-me em sépia
com os teus olhos azuis
fica aqui comigo
e pergunta-me outra vez
para que eu possa dizer-te
sim!
e repetir, repetir-me
até adormecer

segunda-feira, maio 30, 2005

1 Ano

Entre mudanças e arrumações queria dizer que esta Desfolhada (anteriormente Textos e Narrativas) fez 1 aninho no passado dia 27 de Maio.
Confesso que nunca pensei que esta minha passagem pelo mundo dos blogs durasse tanto tempo. Quando coloquei na descrição "os textos que nunca tinha tido coragem de escrever" foi por ser a mais verdadeira das definições.
Porque, anónima, me é mais fácil mostrá-los a quem não conheço e escrever sobre o que me apetece.
Dizem por aí ser complicado escrever sobre as coisas bonitas da vida. Para mim não é.
Talvez porque partilho a vida com alguém que me enche a vida de amor e de momentos felizes. Acredito que devemos aproveitar ao máximo tudo o que a vida nos dá de bom. Sem reservas, sem medos, sem obrigações, sem arrependimentos e sempre, mas sempre, com muito amor.
Este aniversário deve-se a ele e a todos vocês que me visitam e que me têm incentivado a escrever.
Um obrigada a todos com montanhas de abraços & beijinhos.
Um obrigada, também, aos que me deliciam com textos, poemas, desenhos e fotos de qualidade indiscutível que deveriam estar em livrarias e galerias.
Neste momento, sem tempo para algo novo, dedico-vos um poema que postei no ano passado e de que gosto particularmente. Espero que gostem.


Eu flor

À noite
quando o sol se esconde
a lua aparece
e as estrelas espreitam

o livro fecha-se
a luz apaga-se
os corpos desmaiam
cansados
para dar lugar ao sonho

o silêncio espalha-se
apenas a tua respiração

quando todas as flores se fecham
eu abro-me para ti

quarta-feira, maio 25, 2005

A mudança

Entre caixotes
tropeço em recordações
passeio pelas memórias
descubro baús de dias esquecidos
afundo-me em baldes e pincéis
toda eu tinta
toda eu em tons quentes
cansaço espalhado
milimetricamente
pela pele
suo, subo
desço as escadas
contigo
acho as palavras
felizes
em todas as divisões
danço no jardim com a liberdade
de poder fazer tudo
e derreto ao olhar o cão
que persegue a borboleta amarela

terça-feira, maio 10, 2005

Harmonias

Harmonizo-me
no dedilhar das cordas
com que mentalmente
amarro o teu corpo
e estremeço
em extravagante capricho

Lasciva, em brasa
percorro-te ofegante
alheada de mim
em oração mental e contemplativa
da causa primeira de todas as coisas
que me despertou
a (in)quietação e perplexidade
do amor supremo

Reservo-me
em pensamentos secretos
onde o acaso e o destino
não importam
de tão insignificantes

Desejo-te
em camadas de pele infinitas
e harmonizo-me de novo
em ti