Desfolhada

Os textos que nunca tinha tido coragem de escrever... © Reservados todos os direitos de autor dos textos e poemas

terça-feira, setembro 28, 2004

Work in progress

Sou um livro aberto
onde colocas a ponta molhada
do teu dedo indicador
no canto superior direito
de cada página enrugada

Sou um livro em branco
onde me escreves palavras de amor
de todas as cores
em todas as linhas
parágrafos, vírgulas
e pontos finais

Sou um livro em braille
onde os teus dedos percorrem
todas as saliências
para que me sintas
estória completa

Sou um best-seller
autografado
com uma dedicatória
única e intransmissível
que lês babado
por me ter à cabeceira

Sou um livro fechado
e só tu tens o código secreto
para que me possa(s) soltar
amar e proteger
luz em todos os dias cinzentos

Sou um livro inacabado
a work in progress
escrevo-me diariamente
100 (sem?) páginas soltas
sem sentido
mas na tua direcção

sexta-feira, setembro 24, 2004

Atraso

Aqui
espero-te ansiosa
em horas (in)certas
sou ondas soltas
de inquietação
a cada minuto que passa

Em cada ruído
escuto os teus passos
apressados
assobio canções de outrora
mas o silêncio impera

Tento descansar
neste mar imaginado
de papoilas vermelhas
e sonho com um acordar
de malmequeres amarelos

É urgente (o) amor!


segunda-feira, setembro 20, 2004

Fahrenheit 9/11

Faço uma pausa na poesia para falar sobre o filme.
Sinopse: Michael Moore investiga como os EUA se tornaram alvo de terroristas, a partir dos eventos ocorridos no atentado de 11 de Setembro de 2001. Os paralelos entre as duas gerações da família Bush que já comandaram o país e ainda as relações entre o actual Presidente americano George W. Bush e Osama Bin Laden.
Fui ver.
Há quem diga que é o filme mais fraco de Michael Moore. Há quem diga que é o génio dos documentários.
Eu gostei.
Até porque Moore tem uma coisa a seu favor: desde o início que disse/deu a entender que o filme era anti-Bush.
Não senti que Moore fosse mais um tipo que apenas quer falar mal ou ridicularizar Bush.
Nem é preciso. Bush já faz isso sozinho.
Mas Moore percebe de cinema. E explora aquilo que sabe. Como o facto de filmar os políticos enquanto se preparam para aparecer na tv ou quando Bush pede apoio para a luta contra o terrorismo e logo a seguir solicita à imprensa para que vejam a sua tacada de golfe.
A verdade é que, apesar de toda a polémica que rodeou o o filme, ninguém veio dizer (nem pode) que as imagens ou as palavras de Bush são inventadas.
Moore apenas opina sobre a América, os seus líderes e o poder global.
Goste-se ou não. Concorde-se ou não.
Eu só consigo sentir tristeza. Porque, numa escala mais pequena (e, apesar de tudo, menos perigosa), passa-se o mesmo por aqui.
Não só com os nossos políticos, como nas empresas onde trabalhamos.
Cada vez mais o que importa é lixar: o próximo, o colega, o empregado. Só arranja emprego quem tem "cunhas", só se progride com cama ou engraxanço, só enriquece quem é desonesto.
O profissionalismo é cada vez mais indiferente e até pode ser incomodativo.

Resta-me acreditar que toda a regra tem excepção.
E continuar a (minha) luta, da melhor maneira possível.


quarta-feira, setembro 15, 2004

Provocação

Provocador
o artista
que imaginou um quadro
onde tu mergulhavas
no meu corpo
num perfeito vai e vem
com as ondas do mar
nua e molhada de cores
a preto e branco desenhada
coberta pela areia
desnudada pela água

Provocador
o artista
de pincel na mão direita
paleta arco-íris na esquerda
e olhos de águia
único(s)
guardador do segredo
por desvendar
pintou um biquini turquesa
misterioso
com asas de borboleta
onde te perdeste
devagar



sexta-feira, setembro 10, 2004

Amor(as)

Saí de casa vazia
de tupperware na mão

É ali
naquele caminho estreito
onde me pico, me estico
onde fico a olhar, a babar
dou saltos no ar

E percorro aquele caminho velho
onde tudo é novo
Não quero que nada me escape
Quero comê-las fresquinhas
saborosas

Madrugada dentro
um assalto ao frigorífico
enquanto dormes

E eu aqui
de dedos picados
braços arranhados
sentada no chão da cozinha
deliciando-me
labuzando-me
rindo das 9 semanas e meia
minuto e meio de prazer

É boa hora amor
de comer tupperwares de amoras!


quinta-feira, setembro 09, 2004

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Cansada da preguiça do Sapo, mudei de casa.